Defesa da democracia e dos direitos fundamentais não pode ser feita com violação de prerrogativas

A OAB Nacional tem visto com preocupação os recentes casos de desrespeito às prerrogativas da advocacia nos inquéritos conduzidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que apuram atos antidemocráticos e as fake news. Os advogados relatam que não estão tendo acesso aos autos dos processos. A defesa das prerrogativas da advocacia é uma bandeira histórica da OAB, que atua permanentemente em defesa dos direitos fundamentais, da Constituição e do Estado Democrático de Direito.

"A OAB vê em estado de alerta essa questão da falta de acesso aos autos do inquérito das fake news e seus desdobramentos. Isso vai contra tudo que se construiu de positivo até aqui sobre um processo justo e equilibrado. Contra, inclusive, o que o próprio STF cravou como Súmula Vinculante n. 14, reafirmada recentemente por ocasião do voto do ministro relator, Edson Fachin, na análise de constitucionalidade do próprio inquérito", disse o procurador nacional de defesa das prerrogativas, Alex Sarkis.

O caso da prisão do jornalista Oswaldo Eustáquio, sem que fosse garantido a seus advogados acesso aos autos, é um flagrante desrespeito às prerrogativas. A prisão, realizada no dia 15 de junho, foi pedida no âmbito do inquérito que trata da realização de atos antidemocráticos na capital federal. "No caso dessa prisão, entrei pessoalmente em contato com o advogado do preso que, por estratégia profissional, optou por não acionar a OAB, baseado na crença de que seu cliente será posto em liberdade o quanto antes. Ainda assim, estamos em contato permanente com o mesmo e a postos para agir, caso necessário", afirmou Sarkis.

Ainda em 29 de maio, a OAB Nacional, juntamente com a OAB-DF, havia impetrado no STF habeas corpus (HC) com pedido de liminar em favor dos advogados dos investigados em outro inquérito, que trata das fake news. A relatoria de ambos é do ministro Alexandre de Moraes e tramitam sob segredo de justiça.

"Não tenha dúvidas de que a OAB está tomando todas as providências jurídicas, republicanas, para desfazer esse aparente equívoco. Após acionada pelos primeiros advogados, em menos de 24 horas, a OAB impetrou HC. Ao tomar conhecimento do acesso parcial do inquérito, informamos ao STF e reafirmamos que somente o acesso integral satisfaria o mérito do HC, ocasião em que pedimos a análise urgente do pedido de liminar. Outros advogados nos procuraram depois e, apesar de não constarem no HC, serão contemplados pelo mérito que alcança a todos, independente de estarem ou não no HC", explicou o procurador nacional de defesa das prerrogativas da OAB Nacional.

A OAB argumenta que é fundamental o respeito à presunção de inocência e ao devido processo legal. Segundo o procurador nacional de defesa das prerrogativas, a Ordem aguarda posicionamento do relator do HC, ministro Edson Fachin, em relação a tão flagrantes e preocupantes violações acreditando em uma decisão que leve em consideração que tais procedimentos não se coadunam com a democracia que todos pretendem defender, seja combatendo atos antidemocráticos, a disseminação de calúnias e mentiras degradantes por meio de fake news, seja defendendo as prerrogativas da advocacia.

"Esperamos uma decisão o quanto antes. Caso entre o recesso sem o deferimento da liminar, o Conselho Federal, através da procuradoria já estuda outra providência jurídica para provocar o plantão. Fato é que não desistiremos de fazer valer as prerrogativas da advocacia, especialmente em tempos de crise e ataques as instituições como os atuais", declarou Sarkis.

OAB pela Democracia

Em seus quase 90 anos de história, a OAB sempre lutou ao lado do povo brasileiro pela democracia e pela garantia do Estado Democrático de Direito. A advocacia possui papel essencial para o país, para a realização da justiça e para a defesa da Constituição Federal de 1988. É fundamental que advogadas e advogados permaneçam mobilizados em defesa de nossa democracia e de suas instituições.

A campanha “#OABPelaDemocracia” busca sensibilizar toda a advocacia na defesa dos direitos e garantias fundamentais de nossa carta cidadã, contando com o comprometimento de todo o sistema OAB para promover o debate sobre a nossa democracia, em defesa do Direito, da vida, do emprego e das liberdades.

“Somos um escudo em defesa do interesse público, da Democracia e da Constituição Federal. Nossas armas são, tão somente, o diálogo, o respeito às divergências e às regras da Lei”, afirma o presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz.

Ao longo dos próximos meses, serão realizadas diversas ações em defesa de democracia brasileira. No dia de 5 julho, por exemplo, os membros honorários vitalícios da OAB Nacional participarão de uma live, nas redes do Conselho Federal, em defesa do Estado Democrático de Direito. Além disso, será disponibilizada uma série de vídeos explicando pontos fundamentais da manutenção da democracia e está programada a realização de um tuitaço pela democracia.

É muito importante o engajamento e a participação de todo o sistema OAB nas mobilizações. Conselheiros federais, presidentes e diretores das seccionais, conselheiros seccionais, presidentes de caixas de assistência, diretores das ESAs, corregedores, ouvidores e demais dirigentes do sistema estão convidados para participar das ações.

OAB Nacional e ESA firmam acordos de cooperação em diferentes áreas com o CNJ

A OAB Nacional e a Escola Superior da Advocacia (ESA) firmaram, nesta terça-feira (30), duas parcerias com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Uma delas se dará entre a OAB, a ESA e o Conselho para a disponibilização de cursos à distância de mediação e conciliação para advogados, enquanto a segunda se dará entre OAB e CNJ no âmbito do Escritório Virtual.

Felipe Santa Cruz destacou a importância da iniciativa capitaneada pela ESA Nacional. “Não há conciliação e mediação sem uma mudança cultural no modelo de litígio do Brasil. Não há como avançar em soluções alternativas sem que, antes de mais nada, aprofunde-se o trabalho pedagógico que hoje é desempenhado pelas Escolas da Advocacia da OAB. Da mesma forma, nada disso é possível sem a participação da advocacia. É um desafio, pois se há 18 mil magistrados e 15 mil integrantes do Ministério Público no país, temos quase 1 milhão e 300 mil advogados. É um dia de superação nesses tempos de tamanha dificuldade, sobretudo, com a saúde do nosso povo”, apontou Santa Cruz. 

A formação da ESA proporcionará aos advogados atuarem, em um primeiro momento, nas atividades privadas de mediação e conciliação. Projetos pilotos serão desenvolvidos nos tribunais de Justiça de Pernambuco e de São Paulo para que, posteriormente, os advogados possam trabalhar também no âmbito destes fóruns. O objetivo é expandir as práticas para outros tribunais no futuro.

O presidente do CNJ, ministro Dias Toffoli, destacou que é necessário robustecer a política da consensualidade. “A maioria de nós que estamos nesta sessão virtual não passou, na faculdade de Direito, por alguma disciplina específica sobre mediação e conciliação. Isso engrandece ainda mais a importância desta iniciativa conjunta entre OAB, sua Escola Superior da Advocacia e este Conselho Nacional de Justiça. É imperioso o envolvimento de todos os operadores do sistema de Justiça”, sugeriu Toffoli.  

Para o diretor-geral da ESA Nacional, Ronnie Preuss Duarte, os esforços voltados para os métodos consensuais devem ser intensificados. “Muitas vezes são ferramentas cujo acesso é obstado pelo desconhecimento em relação às técnicas. Este convênio, então, representa o vetor para uma potencial mudança cultural que há muito é ansiada por todos os operadores do sistema de justiça. Muito mais do que uma oportunidade aos advogados, trata-se de uma perspectiva concreta para a disseminação de técnicas que servem à cidadania”, disse.   

Pela OAB, também participaram da sessão virtual de assinaturas dos termos de cooperação o secretário-geral adjunto, Ary Raghiant Neto; os presidentes da OAB-PE, Bruno Baptista; e da OAB-SP, Caio Augusto Silva dos Santos. 

Escritório Virtual

O outro termo de cooperação assinado entre OAB e CNJ se deu no âmbito da instituição do novo portal do Escritório Virtual, ferramenta desenvolvida em parceria entre as duas entidades para permitir o acesso dos advogados aos diferentes sistemas processuais dos tribunais brasileiros. A Ordem será a responsável pela gestão e desenvolvimento da nova plataforma. 

“Tão importante quanto o primeiro convênio, este para mim também é motivo de emoção. Tudo o que acredito como função da OAB – e me desculpem a fala incomum em primeira pessoa – é que ela tenha coragem e capacidade técnica para apostar, não em um passado edílico que não existiu, mas em um futuro mais justo de oportunidade e participação para todos. A tecnologia é a chave para isso, é inclusão. O processo eletrônico deve ser implantado respeitando as peculiaridades de cada localidade, mas é um passo absolutamente necessário”, apontou Santa Cruz.