“Universidade do crime”, afirma presidente nacional da OAB

Porto Alegre (RS) - Na véspera do Natal, o Presídio Central de Porto Alegre foi vistoriado pela OAB nesta segunda-feira (23). O presidente e o vice-presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho e Claudio Lamachia, constataram que nada mudou em relação à última inspeção em abril de 2012. O mutirão carcerário da OAB, que será deflagrado em todos os estados, iniciou por Porto Alegre em razão de o Central ter sido apontado um dos piores presídios do País. Em 2012, Lamachia esteve no local com o Cremers e o Crea-RS, quando encontraram condições degradantes em termos de direitos humanos, higiene, saúde, alimentação e infraestrutura. Laudos apontaram a necessidade de interdição da casa prisional. Após, os dossiês foram entregues ao secretário estadual de Segurança Pública, Airton Michels, que prometeu soluções para os problemas e a criação de mais de três mil vagas. Juntamente com demais entidades, denúncia foi enviada à Organização dos Estados Americanos (OEA). Estarrecido, Marcus Vinicius afirmou que as condições indignas do Central motivarão uma nova ação contra os Governos Estadual e Federal junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA. “Vamos ingressar com uma nova denúncia, com pedido de liminar, para que a CIDH se manifeste de modo imediato, cobrando melhorias no sistema prisional gaúcho, que é vergonhoso e não reabilita. Promessas não adiantam!”, ressaltou o presidente do CFOAB, frisando que a medida é semelhante à que foi adotada semana passada no Maranhão, depois de uma rebelião de presos que resultou em nove mortes. “É um dos piores presídios que já vi. Isso aqui é uma verdadeira universidade do crime. Presos provisórios são misturados a condenados, facções mandam na cadeia, decidindo, inclusive, quem tem direito a atendimento medido e jurídico, além de esgoto e fezes correndo pelas paredes dos pavilhões e a céu aberto”, disparou Marcus Vinicius. Acompanhado do presidente em exercício da OAB/RS, Luiz Eduardo Amaro Pellizzer; do secretário-geral, Ricardo Breier; e da secretária-geral adjunta, Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira; Lamachia voltou ao Central decepcionado, diante da certeza de que muito pouco havia mudado em relação à vistoria do início do ano passado. “Muito foi prometido pelo Governo do Estado e quase nada foi cumprido, como a geração de três mil vagas para desafogar o Central, mas o número atual de presos pouco se alterou – são 4,4 mil, contra 4,6 mil em abril de 2012. Estamos em dezembro de 2013 e a população carcerária é quase a mesma. Os presos saem daqui mais violentos. É o quadro de uma tragédia anunciada. Há detentos permanentes e provisórios no mesmo espaço, o que garante o índice de reincidência de 80%”, ressaltou o vice-presidente nacional da OAB e presidente da Ordem gaúcha em 2012. Em parceria com a OAB, Cremers e Crea-RS voltaram ao Central. Sobre o atendimento de saúde, o presidente do Cremers, Fernando Matos se mostrou decepcionado. “Fizeram pintura nas paredes, aumentou a limpeza do ambiente, mas não houve melhoras. As promessas não foram cumpridas. Deveriam ter 72 profissionais, mas existem apenas 10. A única coisa que mudou foi a municipalização da saúde dentro do presídio. O engenheiro do Crea-RS, Nelson Agostinho Burille, também saiu do presídio preocupado, pois nada evoluiu desde a última inspeção em termos de condições de estrutura. “Não existe plano de prevenção e combate a incêndio, hidrantes estão com torneiras quebradas e faltam mangueiras para água, além da dezenas de fios expostos nas paredes. A fiação elétrica é um caos. Se um preso quiser matar outro não precisa de alguma arma ou faca, basta pegar dois fios e a vítima vai morrer torrada”, afirmou Burille. Também participaram da vistoria a Comissão de Direitos Humanos da OAB/RS, Rodrigo Puggina (coordenador-geral) e Roque Reckziegel; os conselheiros seccionais Domingos Baldini Martin e Gustavo Junchem; a coordenadora do Fórum Nacional de Conselhos Penitenciários, Maira Fernandes; e o chefe de gabinete da presidência, Julio Cezar Caspani. Mutirão da OAB segue pelo País A vistoria ao Central é a primeira de um mutirão nacional realizado pelo Conselho Federal da OAB, que vai inspecionar os maiores e mais problemáticos presídios do País até o final de fevereiro. Após, será elaborado um relatório com cobranças ao Ministério da Justiça, que poderá resultar em pedidos de interdição e fechamentos de presídios. Fonte: OAB-RS

Zero Hora: OAB apresentará nova denúncia na OEA

Porto Alegre (RS) - Confira a reportagem da edição eletrônica de jornal Zero Hora sobre a vistoria realizada pela OAB Nacional ao Presídio Central de Porto Alegre. As condições indignas do Presídio Central de Porto Alegre motivarão uma nova ação contra o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), entidade da Organização do Estados Americanos (OEA). A proposta será encaminhada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) após vistoria ao presídio na terça-feira, na qual participaram o presidente da entidade, o piauiense Marcus Vinicius Furtado Coêlho, acompanhado de dirigentes nacionais e estaduais da ordem, além de representantes dos conselhos regionais de Medicina (Cremers) e de Engenharia e Agronomia (Crea). A ideia da OAB é ingressar com uma nova denúncia com pedido de liminar para que a CIDH se manifeste de modo imediato, cobrando do Brasil melhorias no sistema prisional gaúcho. Em janeiro, uma ação à CIDH foi encaminhada pela OAB gaúcha em parceria com a Associação dos Juízes gaúchos (Ajuris) e outras entidades, mas até hoje não existe uma definição sobre o caso. O presidente da OAB disse que a medida é semelhante à que foi adotada semana passada no Maranhão, depois de uma rebelião de presos que resultou em nove mortes. Coêlho deixou o Central estarrecido: – É um dos piores que já vi, uma universidade do crime. Presos provisórios são misturados a condenados, facções mandam na cadeia, decidindo, inclusive, quem tem direito a atendimento jurídico, além de fezes correndo pelas paredes dos pavilhões a céu aberto – lamentou. Em vistoria no começo do ano passado, foi prometida pelo governo a geração de 3 mil vagas para desafogar o Central, mas o número atual de presos pouco se alterou – são 4,4 mil, contra 4,6 mil em abril de 2012. O gaúcho Claudio Lamachia, vice-presidente nacional da OAB, lembrou que no começo do ano passado, quando ocorreu a vistoria anterior, foi prometida pelo governo a geração de 3 mil vagas para desafogar o Central, mas o número atual de presos pouco se alterou – são 4,4 mil, contra 4,6 mil em abril de 2012. – Estamos em dezembro de 2013, e a população carcerária é quase a mesma. Os presos saem daqui mais violentos. É o quadro de uma tragédia anunciada. Sobre o atendimento de saúde, o presidente do Cremers, Fernando Matos se mostrou decepcionado: – Fizeram pintura nas paredes, aumentou a limpeza do ambiente, mas não houve melhoras. As promessas não foram cumpridas. Deveriam ter 72 profissionais, mas existem apenas 10. A única coisa que mudou foi a municipalização da saúde dentro do presídio. O engenheiro de segurança do trabalho Nelson Agostinho Burille, também saiu do presídio preocupado com o que viu. Segundo ele, nada evoluiu desde a última inspeção em termos de condições de estrutura da cadeia. Lembrou que não existe plano de prevenção e combate a incêndio, hidrantes estão com torneiras quebradas e faltam mangueiras para água, além da dezenas de fios expostos nas paredes. – A fiação elétrica é um caos. Se um preso quiser matar outro não precisa de alguma arma ou faca, basta pegar dois fios e a vítima vai morrer torrada – afirmou Burille. A visita ao Central é a primeira de uma caravana nacional realizada pelo Conselho Federal da OAB que vai inspecionar cadeias as maiores e mais problemáticas cadeia do país até fevereiro. Após, será elaborado um relatório com cobranças ao Ministério da Justiça. CONTRAPONTO O que diz a Susepe: Conforme a assessoria de comunicação, a Susepe não se manifestará sobre as críticas, pois não foi avisada nem convidada para acompanhar a vistoria. Informou que diversas melhorias estão sendo feitas ao longo do ano no Presídio Central e nas demais cadeias

Correio do Povo: OAB fará denuncia por violação de direitos humanos

Porto Alegre (RS) - Confira a cobertura do jornal Correio do Povo sobre a vistoria realizada nesta segunda-feira (23) do Conselho Federal da OAB ao Presídio Central de Porto Alegre. A exemplo da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai ingressar com mais uma denúncia contra o governo federal em função das condições do Presídio Central. A segunda vistoria realizada em 2013 mostrou, nesta segunda-feira, que a precariedade de algumas alas se mantém, assim como o esgoto que corre a céu aberto no pátio da penitenciária. A OAB pretende fazer a denúncia à Corte Interamericana da Organização dos Estados Americanos já no início de 2014. Na visita, que foi fechada à imprensa, a comitiva também comprovou que a superlotação e a falta de separação entre os detentos se mantêm. Entre as vistorias realizada em abril e nesta segunda-feira, houve redução de somente 200 apenados. Atualmente, são 4.441 presos amontoados no espaço destinado para pouco mais de 2 mil. “É uma universidade do crime o que se presencia neste lugar. Não há separação de presos pelo grau de periculosidade e tipo de crime. Há detentos permanentes e provisórios no mesmo espaço, o que garante o índice de 80% de reincidência”, considerou o presidente nacional da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho. Conforme o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), também há detentos sem o devido atendimento médico nas celas. O presidente da entidade, Fernando Weber de Matos, fala que os próprios detentos admitem que o tratamento é concedido somente a alguns. “Quem não tem dinheiro para pagar, pode não conseguir 'descer' para o ambulatório. As facções dominam até o direito a receber atendimento médico”, sustenta. O Central ainda registra problemas estruturais e instalação elétrica precária. Não há Plano de Prevenção contra Incêndio, mesmo porque os extintores podem ser utilizados como armas. As mangueiras são velhas e em algumas alas, inexistem, conforme o engenheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agroonomia (Crea), Paulo Deni Farias. A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) não se manifestou formalmente sobre a vistoria, mas entende que foram implementadas melhorias consideráveis no presídio considerado a “masmorra do século XXI” pela CPI do Sistema Carcerário de 2009. O Pavilhão C, conhecido “corredor do inferno”, foi reformado. No final de julho de 2012, a cozinha foi reinaugurada, ao custo de R$ 1,2 milhão, incluindo a colocação de 145 metros de piso de basalto, bancadas, cinco panelões com capacidade para acondicionar 500 quilos de comida, instalações de coifas e reformas na rede de esgoto. Ainda foi destinada uma ala exclusiva para possíveis presos da Copa do Mundo. A Secretaria da Segurança ainda projeta que, até o final de 2014, o problema do Presídio Central seja resolvido com a criação de 4.530 vagas em presídios em construção, entre eles um em Canoas, com capacidade para 393 detentos. A obra chegou a ser paralisada pela Justiça em função da falta de licitação, mas já teve 40% das obras concluídas. A previsão é de que a modulada seja concluída em abril de 2014.